domingo, 5 de novembro de 2017

Adaptação curricular #1 Entendendo a necessidade

Na vida de intérprete nos deparamos muitas vezes com a ignorância dos profissionais que nos cercam, que pensam que seus alunos surdos devem ser tratados de forma igualitária.  Aparentemente acreditam na padronização, ou justificam ao dizer que no mundo lá fora, na vida real, nossos alunos portadores de deficiências não encontrarão facilidades.

Só porque o mundo lá fora não cumpre as leis, não significa que a escola também não deva cumprir, não é mesmo? Aliás, se você como professor cumprir sua função de adaptar os conteúdos, os materiais e as avaliações não beneficiará apenas seu aluno especial, como também dará o exemplo aos outros alunos, que futuramente quando forem empregadores, ou colegas de trabalho de pessoas portadoras de deficiência, saberão valorizar as diferenças e selecionar pessoas capazes para funções diversas de acordo com as suas habilidades e especificidades.

Cada pessoa tem as suas características, e se mais gente soubesse aproveitar isso o mundo seria um lugar melhor, os trabalhos seriam muito mais produtivos, e a maneira de avaliar contemplaria um público bem maior.  Teríamos pessoas mais felizes, empregadores mais satisfeitos com seus funcionários, e seríamos certamente pessoas muito mais produtivas.

Mas aí a escola segue o padrão fordista... pretendendo criar trabalhadores em massa. Silenciando a criatividade.  Destruindo a individualidade. Aí, meus queridos... não tem como sair coisa boa.

Seus alunos não são iguais.  Eu sei que seria muito difícil se preparar para uma aula levando em conta cada diferença em sala de aula, preparar avaliações diferentes.  Mas se você possui um surdo na sua sala de aula e um intérprete, fale com o intérprete. Estamos aí pra ajudar.  Não somos apenas mãos que balançam.  Somos pessoas, inseridas na comunidade surda... conversamos com o SEU aluno, sabemos como ele gosta de se comunicar, em que tem mais dificuldade, que tipo de avaliação teria mais facilidade em responder.  Somos mais uma ferramenta pedagógica... então aproveite.

Lembre-se: Você não está ajudando seu aluno, facilitando a vida dele... está apenas cumprindo a lei, e fazendo isso está auxiliando para que as coisas sejam um pouquinho mais justas. 
Muitas vezes os professores sentem que ser mais justos é passar o aluno sem que ele tenha aprendido, de fato, é mais justo que reprová-lo sem ter dado os meios de aprender. Mas ainda não está certo. É preciso dar os meios, ensiná-lo e avaliá-lo a partir do que ele pode fazer. Mas vou falar sobre isso em outro post.

  • Formoso, 2009, p.36 - " o currículo é um campo de disputa entre os interesses de poucos surdos e de uma maioria ouvinte.
  • Decreto 5.626/2005 - "ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua"
  • Franco (2007) - "as adaptações curriculares, de planejamento, objetivos, atividades e formas de avaliação no currículo como um todo, ou em aspectos deles, são para acomodar alunos com necessidades especiais.
O currículo comum precisa ser reformulado. É necessário criar situações didáticas e currículo adaptado que oportunizem o aluno surdo a desenvolver suas habilidades linguísticas na língua materna, Libras, para que essas habilidades possam apoiá-lo nas competências da escrita da Língua Portuguesa.

A língua do surdo é visual, a memória dele é visual... quanto mais recursos visuais, melhor. Estimule seu aluno ao aprendizado.  Seja ele criança ou adulto.  Ele não aprende como  os ouvintes, não se comunica perfeitamente em português. Ele pode entender muito bem sua matéria, mas não conseguir mostrar nada numa prova escrita.

Lembre-se que o português é a segunda língua do surdo.  Você faria uma prova de química em inglês para os alunos? É isso que acontece o tempo todo com seu aluno surdo.

Espero que este post tenha sido útil para refletir sobre a necessidade da adaptação. Teremos mais sobre esse tema. Se quiserem comentar... estou aberta a conversas produtivas.