O intérprete é uma figura relativamente nova nas escolas regulares, o que causa muita confusão por parte dos profissionais que o cercam, não devo citar minha experiência por uma questão de ética. Então irei apenas citar trechos de um documento, que eu recomendo que se possível seja lidos na íntegra.
Esse é um documento do MEC explicando o papel do tradutor e intérprete de Libras
O que vou citar abaixo foi retirado desse documento. Vamos começar pelo que NÃO é função do intérprete e o que você não deve pedir que ele faça.
(pág. 61)
"Conforme apresentado em http://www.deafmall.net/deaflinx/
edcoe.html (2002), nos Estados Unidos já houve tal discussão e foi
determinado ser anti-ético exigir que o intérprete assuma funções que não
sejam específicas da sua atuação enquanto intérpretes, tais como:
• Tutorar os alunos (em qualquer circunstância)
• Apresentar informações a respeito do desenvolvimento dos alunos
• Acompanhar os alunos
• Disciplinar os alunos
• Realizar atividades gerais extra-classe "
(pág. 28)
"Qual o papel do intérprete?
Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e
vice-versa observando os seguintes preceitos éticos:
a) confiabilidade (sigilo profissional);
b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com
opiniões próprias);
c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu
envolvimento durante a atuação);
d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal
são separados);
e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode
alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito
de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que
realmente foi dito). "
Ou seja, o papel do intérprete é apenas possibilitar a comunicação entre surdos e ouvintes. O intérprete não é um auxiliar a disposição da escola ou do professor em sala. É anti-ético que o profissional aceite assumir o papel do professor ou de outro profissional da escola. Isso contribui para a confusão a respeito do nosso papel na escola.
Obviamente quando se trata principalmente do Ensino Infantil e Fundamental será necessário que o intérprete tenha uma participação mais pedagógica auxiliando no processo ensino-aprendizagem, mas isso deve ser feito com o professor. Espera-se que o professor esteja atento às necessidades de todos os alunos, incluindo os alunos surdos, mas isso será assunto pra outra postagem.
Vocês que são diretores, coordenadores e orientadores tem obrigação de conhecer o papel do intérprete quando o recebe na escola. E também devem orientar toda a equipe sobre isso, para que cada um possa exercer bem o seu papel. Nas escolas é muito comum desvio de função, mas eu acredito que se cada um exercer bem o seu papel as coisas funcionam da maneira correta e cada um pode dar o seu melhor dentro das suas atribuições.
Receba bem o intérprete. A cada troca de aluno ou turma apresente o intérprete a equipe de professores com quem ele vai trabalhar, mostre onde será a sala e principalmente, apresente o aluno. Faz parte da função dos gestores orientar sua equipe, e o intérprete agora faz parte dessa equipe.
E quando o aluno surdo falta?
Lembre-se que o papel do intérprete continua sendo o mesmo. Ser intérprete de Libras exige estudo constante para se manter atualizado, adaptação a cada aluno, prática do idioma e formação específica. Então o intérprete poderá usar esse tempo para aprimorar seus conhecimentos e tentar pensar em formas de difundir a Libras na escola e comunidade.
Se ficou dúvida nas atribuições, aqui está o artigo 6º da lei 12.319/2010
Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências:
I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa;
II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;
III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos;
IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e
V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais.